ANÁLISE DA INTERVENÇÃO - H. HERTZBERGER | CASA DA GLÓRIA / DIAMANTINA, MG
Renan Maia dos Santos – ARQ&URB UFMG (2019-2) AIA.
TEXTO CRÍTICO SOBRE A INTERVENÇÃO – CASA DA GLÓRIA / DIAMANTINA, MG
TEXTO CRÍTICO SOBRE A INTERVENÇÃO – CASA DA GLÓRIA / DIAMANTINA, MG
“É a maneira como os elementos são organizados que transforma a prática em teoria.”. A partir da máxima, é notório que a obra de Herman Hertzberger, Lições de Arquitetura, visa não só dar uma explicação acerca dos conceitos arquitetônicos abordados, mas também causar uma espécie de desconforto no leitor ao mostrar -com ajuda de exemplos, principalmente- que boa parte do conhecimento que adquirimos em diversas áreas é fruto de uma mentalidade anterior. Dessa forma, essa quebra de mentalidade foi crucial na elaboração e planejamento das intervenções na Casa da Glória, as quais serão relacionadas ao texto mencionado a fim de mostrar a conversação com os seguintes tópicos: Forma Convidativa; Urdidura e Trama; Polivalência, Flexibilidade e Funcionalidade; Articulação entre o Público e o Privado; Irregularidades; Gradações de Demarcações Territoriais.
Imagens 1 e 2 – Espaço sem a intervenção; Imagens 3 e 4 – Espaço pós Intervenção.
• Forma Convidativa: “quanto maior o espaço, maior as possibilidades de utilização”. Esse foi um grande desafio encontrado: gerar diferentes possibilidades de uso em um ambiente reduzido. Ao mesmo tempo, a solução se mostrou verticalizar a apropriação temporária com a rede suspensa, estimulando o contato com outras pessoas (sem que haja imposição) e possibilitando, também, que acontecesse uma apropriação da parte inferior do cômodo. Tal intervenção se adequa nos moldes da ‘Plasticidade’ abordado no livro, onde é notória a capacidade de adaptação a diversas situações distintas (haja vista as diferentes possibilidades de disposição dos cubos), corroborando para que a arquitetura se ajuste ao gosto do usuário, de forma que gere mais afinidade às pessoas que ali utilizarão.
• Irregularidades: “ao invés de minimizá-las, devemos articulá-las”. O ambiente em si era, de certa maneira, impedimento para uma possível apropriação devido ao suas proporções e finalidades obrigatórias (circulação). Porém, a solução de articulação do espaço pelo seu comprimento foi de suma importância para a integração dessa irregularidade inerente. Outras irregularidades, como altura das portas e disposição da janela foram de suma importância para a elaboração da forma da rede suspensa e disposição dos cubos móveis na parte inferior da intervenção.
• Articulação entre o Público e o Privado & Gradações de Demarcações Territoriais: A caracterização do espaço como público e privado é dada como relativa em grande parte do livro. Nessa situação, ao percorrer muitas vezes o espaço antes da intervenção notou-se uma diferença de sensação entre transitar nos corredores do pátio externo e transitar no local em questão. Baseado nesse sentimento, a intervenção focou em gerar um espaço semiprivado que ainda estivesse em conversação com o meio inferior do cômodo através da rede vazada. Público embaixo, semiprivado em cima. Tal situação, devido ao grau de acesso ao local, é resultado de uma convenção gerada pela disposição de entradas, forma dos objetos e articulação tanto da parte inferior quanto da superior, tornando-se desprezível qualquer tipo de aviso de demarcação territorial (entre público, privada, semiprivada, etc.), tornando-se intuitiva a sua lógica.
• Urdidura e Trama: “Urdidura e Trama constituem um todo indivisível, uma não pode existir sem a outra e cada uma empresta à outra seu objetivo”. Caracterizado como uma Irregularidade nos tópicos passados, as proporções do local escolhido para a intervenção se tornaram um desafio que, ao ser rígida na sua composição, estabelece inúmeras possibilidades de criação. Tal qual a Urdidura, essa estrutura retangular, com paredes estreitas, alto pé-direito, engessada, foi fundamental para a criação (ou desenho) da intervenção, caracterizando a ideia de Ordenamento Mínimo. Ou seja, sem a existência dessas limitações, seria impossível a ideia de criação da mesma forma como fizemos. Ela gerou possibilidades distintas entre si, mas que, ao mesmo tempo, todas sempre conversavam com a “espinha dorsal” do ambiente.
Pela limitação do cômodo, a Trama se mostrou direcionada à usos específicos, mas sem perder a capacidade de multifuncionalidade -ponto recorrente em toda narrativa do livro- quando falamos das diferentes formas de utilização dos cubos e diferentes formas de apropriação do espaço na vertical.
• Polivalência, Funcionalidade e Flexibilidade: A Funcionalidade extremamente específica do local escolhido causa incômodo devido principalmente a falta de planejamento para adaptações futuras, no início do projeto. Essa mesma especificidade de função gera, além de uma monotonia, uma impossibilidade de identificação do usuário com o local, dificultando a criação de uma afinidade com a arquitetura, fato que tentamos subverter na intervenção proposta.
Da mesma forma, buscamos uma negação absoluta desse ponto de vista fixo de ‘somente transição’ e buscamos a neutralidade a partir de objetos os quais ofereciam uma solução (não adequada, mas flexível) partindo pressuposto explicitado no livro de que não existe solução correta pois o problema está em constante mudança. A intenção de instigar o usuário do local de mudá-lo foi, decerto, resultado da polivalência de parte da intervenção haja vista a importância dessa forma de interatividade com o ambiente a fim de proporcionar a tão esperada afeição entre pessoa e arquitetura.
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